domingo, outubro 31, 2004

SOTTO VOCE

É possível que eu esqueça a liquidez da lua
o sono dessa rua às três da madrugada
a longa caminhada orquestrada pela chuva
a sombra de uma luva em cima de uma vaga

É possível que eu esqueça o dia em que nasceste
Em que depois da luva apareceram as mãos
É possível que eu esqueça Ou me seja indiferente

É possível que sim É preciso que não

David Mourão-Ferreira
in Do Tempo ao Coração [1962-1966]

quinta-feira, outubro 28, 2004

Liberdade

Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade

in Mar
Sophia de Mello Breyner Andresen

domingo, outubro 24, 2004

PAULA REGO


The Punishment Room, 1969. Mixed media on canvas, 120 x 120 cms

quinta-feira, outubro 21, 2004

Paula Rêgo - Fundação Serralves

Exposição da pintora Paula Rêgo na Fundação Serralves
de 15 de Outubro de 2004 a 23 de Janeiro de 2005

"A exposição apresentará uma selecção da obra de Paula Rego produzida a partir de 1996, incidindo particularmente na relação entre a sua pintura e o desenho, assim como na construção de situações ficcionais singulares e idiossincráticas. A artista apresentará pela primeira vez os desenhos preparatórios das suas pinturas, realizando ainda uma nova série de trabalhos, especificamente pensados para esta exposição, a partir de um tema onde surja como referência a cidade do Porto. A exposição terá início no Museu de Serralves, encontrando-se em estudo a sua itinerância por Espanha, França e Itália, sabendo-se já do interesse da Colecção Saatchi em poder ser a entidade co-produtora onde a exposição terá a sua última itinerância. "
www.serralves.pt

domingo, outubro 17, 2004

Lost In Translation – O Amor é um lugar estranho

Um filme sincero e bastante real.
Temperado qb com o humor característico de Bill Murray.
Uma visão fantástica e simultaneamente crítica da sociedade japonesa em Tóquio, serve de pano de fundo a momentos vividos pelos dois personagens principais ao enfrentarem a realidade das suas vidas num país longe do seu e perfeitamente díspar.


Para todos aqueles que estão perdidos ou desorientados.
Não hesitem!
O que estão à espera!

domingo, outubro 10, 2004

O Pêndulo de Foucault – Umberto Eco

Tendo por base a vida de três redactores editoriais, este livro gira à volta de temas herméticos.
A descoberta de uma mensagem e a leitura de diversos manuscritos sobre Templários, Rosas-Cruzes, outras sociedades secretas e temas relacionados, vai levá-los e empreender uma tarefa deveras ambiciosa: a construção de um Plano, no qual vão interceptar e relacionar diversos temas e acontecimentos remontando a séculos atrás, fazendo analogias até os dias de hoje com o objectivo de revelar uma Conspiração a nível mundial.
Tudo isto é temperado com a história de cada um dos três personagens, envolvida num contexto político e social, em particular na Itália dos anos 40, 60 e 70, e em geral do resto do mundo.

Para um leigo como eu, estas foram 555 páginas sofridas.
A escrita de Umberto Eco (quem o conhece talvez me dê uma ideia diferente) não é fácil. Ela própria bastante hermética! Claro que o facto de ser doutorado em filosofia tem uma grande influência.
Mas a edição, que agora descansa na minha estante, é que faz com que o caminho seja penoso! Umberto faz um grande trabalho de investigação, fundamentando cada capítulo (estamos a falar de120!!) com um excerto retirado de determinada obra. O problema é que são escritos em latim, francês, italiano, alemão, etc, e o tradutor da obra não os traduziu!! Isto também acontece ao longo do texto em diversas passagens e diálogos!!
Além disto não há nenhuma nota de tradutor para os termos específicos!
Não recomendo! Talvez o volte a ler daqui a uns anitos!

terça-feira, outubro 05, 2004

A ARTE DA ESCRITA

"A ditadura produziu dirigentes políticos de melhor qualidade que a democracia."Guerra, João, Diário Económico, em 20041004

"A democracia não é um sistema perfeito mas, até à data, ainda não se descobriu nada melhor."

Já não sei quem disse mas eu também digo! de Magalhães, Isabel, Blogoesfera, em 20041005.

Inocente ou Culpado?

Apesar de saber que este é um filme que depois de ser visto a primeira vez o véu se levanta e revela a verdade, adquiri uma versão em DVD que saiu com um jornal diário recentemente e voltei a vê-lo.

Este é um filme que recomendo. Sobre causas, tem como pano de fundo a questão da pena de morte.
É a história de David Gale (Kevin Spacey, brilhante mais uma vez), professor de filosofia e activista de um movimento contra a pena de morte, que é condenado à morte pelos crimes de violação e homicídio. Mas esta é só a linha principal..... o enredo é mais complexo e a teia desenvolve-se à nossa volta.

Muito bem realizado, foca temas importantes como a força que precisamos para enfrentar a adversidade da vida, o direito de morrer, e a fiabilidade do sistema judicial quando aplica a pena de morte.

São garantidos momentos intensos, que no decorrer do filme questionam as nossas convicções.
No final é deixado espaço para o espectador tirar as suas conclusões.

A não deixar de ver já que é um filme que nos faz pensar sobre temas que ultimamente estão em último plano e que não nos preocupam particularmente enquanto portugueses.

sábado, outubro 02, 2004

Paixão de Cristo

Porque não começar por um dos filmes mais polémicos da actualidade.

Vejo este filme como algo que vai muito além de questões religiosas.
É um tratado sobre a Natureza Humana!
Que por acaso tem como pano de fundo as últimas horas de alguém chamado Jesus de Nazaré.

Abana-nos e acorda-nos para a realidade do que somos e nos transformámos.
Mostra um homem que, como o comum dos mortais, sente medo e dor.
Não apresenta um determinado povo como “vilão”, bem pelo contrário foca a atenção na natureza maléfica de algumas pessoas enquanto elementos da raça humana. Alguns maquiavélicos por questões políticas, outros por puro prazer e muitos outros por pura ignorância e estupidez.

A violência de que tanta gente se queixa tem mesmo de existir! Sem ela a mensagem do filme não fazia sentido.
Pensemos um pouco: Naquelas épocas tão conturbadas se existiam torturas, castigos, punições, etc, seria, com toda a certeza, bem pior do que aquilo que o filme apresenta!
Uma coisa é certa: Não seria como os filmes anteriores sobre o tema, especialmente com um homem de olhos azuis, com o cabelo e a barba bem cuidados e roupas de designer! Essa é a realidade que queremos ver!

A atenção deve ser dirigida, não para as feridas que os golpes infligem, mas sim para a expressão de quem os leva a cabo e para os motivos que os originaram.

Sinceramente, a religião é mais um instrumento de “tortura” e controlo! Este filme serve essencialmente para mostrar aquilo que um ser humano é capaz de fazer e a maldade que existe por aí!
A polémica surge porque não queremos admitir o que fizemos ao longo dos tempos (a maior parte a história omitiu!) e aquilo que somos capazes de fazer!!
Não é preciso ler um compêndio de história, ou ver um filme sobre o tema, basta olhar para a realidade actual. O que move as pessoas actualmente... Crimes grotescos que ocorrem a cada minuto... A espiral de desgraças que assolam o mundo...

A Fé não se pode quantificar pelo número de vezes que vamos a determinada igreja, ou pelo aquilo em que acreditamos! Tem de ser algo incondicional; algo que se sente; algo que faz parte de nós em cada momento; algo que tem pouco a ver com o Homem mas sim com a natureza da sua bondade e compaixão...