domingo, outubro 31, 2004

SOTTO VOCE

É possível que eu esqueça a liquidez da lua
o sono dessa rua às três da madrugada
a longa caminhada orquestrada pela chuva
a sombra de uma luva em cima de uma vaga

É possível que eu esqueça o dia em que nasceste
Em que depois da luva apareceram as mãos
É possível que eu esqueça Ou me seja indiferente

É possível que sim É preciso que não

David Mourão-Ferreira
in Do Tempo ao Coração [1962-1966]

7 comentários:

Rui Cabral disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Rui Cabral disse...

Todas as coisas podem ser efémeras, mas nunca devemos esquecer aquilo que é importante para nós e para quem nos é querido... por mais insignificante que nos pareça.

Obrigado, Isabel, por este lindo alerta. :-)

bjs :-)

Isabel Magalhães disse...

Gui;
O David é o meu POETA e tenho-o sempre na mesa de cabeceira. Adoro as imagens poéticas que ele nos deixou; a subtileza da escrita mesmo quando o arrojo das palavras o impõe. Ler David é um prazer sempre renovado.

***

Isabel Magalhães disse...

Grifis... what a surprise! Stai a Roma? Scrivi da Roma? :)

***

Rui Cabral disse...

Isabel, tenho de o conhecer melhor.
Também o tenho na tal Antologia, mas...
"Soneto do Cativo"; "Do Tempo ao Coração"; "O Corpo OS Corpos"; "Presídio"; são poucos mas deixa um "gostinho na boca" :-)

bjs Mestra além fronteiras :-)

PS: as melhoras do MR. D.

Isabel Magalhães disse...

Do David: - Obra Poética I e II volumes e Música de Cama. A Nota Liminar deste último é fascinante.

Ficam bem com qq lareira, a manta, o camisolão e as meias grossas. :)

Rui Cabral disse...

Vou tratar disso!

bjs